Cuidado e proteção são itens fundamentais quando nos referimos à Educação Infantil: rotinas diárias para a promoção de saúde e bem estar fazem parte do dia a dia no contexto da EMEI Cel. Manuel Soares Neiva e esta responsabilidade se estendeu em nossa configuração remota de atendimento às crianças e famílias decorrente da pandemia em virtude do novo corona vírus (Covid-19). O isolamento social se tornou necessário com o avanço das contaminações: tínhamos expectativas para o retorno das aulas presenciais mas, com o passar dos dias, vimos que o cenário era muito delicado, pois o número de casos da doença não parava de subir, resultando em inúmeras vítimas.
Nossas ações foram voltadas para informar e refletir, buscando nos referenciar em estudos científicos de diversos autores especializados na Educação Infantil. Médicos e sanitaristas como o Dr. Jorge Kayano, pesquisador do Instituto Polis, compartilhou conosco informações importantes para compreendermos como poderíamos atender as famílias na atual situação que envolvia muitas outras questões - que iam além do isolamento social. Assim que nosso blog foi ao ar, propusemos vivências para as crianças como a explicação sobre a importância do isolamento social e porque devemos ficar em casa, como lavar as mãos e a sua importância, assim como a confecção de máscara e um jogo para ampliar os conhecimentos sobre o novo vírus. Sempre que necessário, retomávamos o tema.
Elaboramos protocolos fundamentais para um possível retorno das aulas: a todo momento e em todas as discussões tínhamos como principal preocupação garantir o cuidado, bem estar e proteção de nossas crianças no âmbito escolar e familiar. Com a preocupação em elaborar um documento para a nossa unidade escolar, nosso protocolo continha cinco diretrizes para repensarmos nossas ações: distanciamento, aplicação de barreiras (uso de máscaras, lavar as mãos, cobrir a boca ao tossir/ espirrar), evitar a aglomeração, higienização e desinfecção de equipamentos e áreas em comum. Ao receber os protocolos de retorno às aulas da SME, a equipe já estava envolvida com as ações a serem tomadas: discutimos as adequações para atender as orientações necessárias, solicitamos materiais essenciais (máscaras, aventais, álcool em gel, entre outros) e documentamos algumas atitudes que diminuiriam a possibilidade de contágio entre crianças, professores e equipe escolar (retirar sapatos ao entrar na escola, higienizar mãos com sabonete e álcool gel, janelas e portas abertas para manter o ambiente arejado, entre outros). Além disso, a escola passou por reformas estruturais para disponibilizar novos lavatórios nas partes interna e externa, melhorando a estrutura do espaço físico para atender às crianças com maior segurança.
Elaboramos nossas propostas de vivências (no contexto do retorno à unidade) com base nas discussões levantadas por Paulo Fochi e Ana Carolina Thomé, nos preocupando em atender as crianças em ambientes abertos e arejados e com materiais apropriados com a intenção de afastar a possibilidade de contágio. Para ampliar nossos conhecimentos, a Prefeitura de São Paulo também nos ofereceu os cursos Autocuidado: um novo olhar em tempos de pandemia e Protocolo de segurança.
Embora o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e dos povos originários já estejam assegurados por lei (10.639/2003 e 11.645/2008) e presentes nos documentos institucionais oficiais, firmamos o nosso compromisso com uma pedagogia antirracista também em nosso projeto político-pedagógico, em nosso projeto especial de ação, em nosso plano de metas e em nossas cartas de intenções. Afinal, já que um dos papeis da escola é formar cidadãos críticos e autônomos, precisamos também criar as condições necessárias para que as crianças avancem tanto em seus desenvolvimentos intelectual quanto moral. Logo, entendemos que devemos contribuir para a construção de uma percepção positiva das diferenças, combater qualquer forma de discriminação e ampliar os conhecimentos e reflexões acerca dos diferentes povos, suas histórias e culturas.
Relembre: Baú de Memórias sobre a Festa Africana
Um trabalho voltado para as questões étnico-raciais já fazia parte de nosso currículo em anos anteriores e, mesmo afastadas por conta da atual pandemia, demos continuidade aos nossos estudos coletivos por meio de leituras de textos, pesquisas, trocas de experiências, análises de diversos tipos de materiais e discussões entre gestores, educadoras e demais funcionários da unidade. Esse trabalho ampliou ainda mais os nossos olhares e, neste contexto do ensino à distância, procurávamos sempre contemplar a demanda através de nosso blog e redes sociais – tanto através do compartilhamento de materiais com pessoas negras e indígenas como protagonistas, como propostas de brincadeiras, jogos e outras vivências que fazem parte dos diferentes grupos étnicos.
Com o nosso projeto do blog já consolidado e ainda sentindo a falta de um trabalho um pouco mais direcionado para essas questões, a partir do segundo semestre decidimos propor vivências pensando em três grandes temas geradores: Povos Indígenas, Africanidades e Alguns dias para dar a volta ao mundo.
A cultura indígena sempre esteve presente na história do nosso país, influenciando constantemente em nossas tradições. Considerando a importância que a escola tem em estar constantemente em contato com as diferentes culturas, eis que sentimos a necessidade de abordar essa importante temática com as nossas crianças através de vivências em nosso Blog.
Relembre: Pintura corporal dos povos originários do Brasil
Procuramos em nosso percurso oferecer propostas que oportunizassem contato com essa rica diversidade, apresentando e enaltecendo a trajetória dos povos indígenas reforçando suas contribuições em nossa história. Acreditamos que abordar temas indígenas na escola seja de fundamental importância, pois acabamos oferecendo às crianças condições desde muito pequenas para estarem em contato com as tradições de seu país, em especial o Brasil que apresenta uma vasta cultura, buscando sua valorização, promoção e preservação.
Também com esse projeto conseguimos refletir com as crianças e familiares numa perspectiva diferente, deixando no passado visões estereotipadas. Apresentamos a capacidade criativa desses grupos, levando através de vivências como brincadeiras (peteca, três em linha, currupio, arranca mandioca), informações (roda da conversa: levantamento de hipóteses, como e onde moram os povos indígenas), músicas (circularidade, conexão com a natureza), dança (danças circulares ou em filas), culinária (receita de crepioca), artes (confecção de colar de macarrão, cerâmica, pau de chuva, desenho com intervenção), costumes (pintura corporal), lendas (a lenda da mandioca, do Curupira e da vitória régia) e tradições muito peculiares de cada grupo, sempre respeitando a essência e singularidade de cada cultura apresentada.
As devolutivas de algumas crianças vieram através de áudios, vídeos e fotos, demonstrando interesse diante das propostas apresentadas. Observamos que ocorreu uma importante conexão com a temática e sentimos a forte necessidade de continuar com essa rica proposta em nossos planejamentos. Vale ressaltar que é um tema inesgotável e que merece nosso total empenho e estudos.
Em Setembro, o tema gerador de nossas vivências foi Africanidades: a partir de nossas reuniões pedagógicas, levantamos as intencionalidades e estabelecemos um cronograma de publicações para o nosso blog e redes sociais. Pensando em como faríamos na escola caso não estivéssemos neste contexto do ensino à distância, decidimos iniciar a temática com uma espécie de roda da conversa para que as crianças levantassem as suas hipóteses acerca do continente africano: dentre os textos, desenhos, áudios e vídeos enviados pelas famílias via linha de transmissão no Whatsapp, muitos demonstraram grande interesse pelos animais, disseram que o clima é majoritariamente quente, que a África é um país, trouxeram relatos sobre seus antepassados e povos escravizados, e destacaram a pobreza e conflitos religiosos (“são um povo sofrido”). Em suas respostas, alguns demonstraram que haviam feito algumas pesquisas anteriormente, enquanto outros relacionaram às suas vivências para construir suas lógicas:
Relembre: Ubuntu, mais que uma história, uma filosofia de vida
- "A mamãe pesquisou que na África tem um monte de coisas. Umas coisa boa e umas coisa ruim. O elefante e a girafa é da África. E os corredores são africanos. Esse é o lado bom!"
- "Então, combina com a Terra a África, combina, mãe? Combina um pouco, não é? (...) Animais, uma coisa, uma casa pra morar, pra virar, assim... (...) Elefante! (...) Sabe, gente, é muito frio porque não tem casa. Então, se a gente comprar uma casa, não tinha frio. Agora, se a gente comprar uma casa, tinha frio!"
- "A gente pode encontrar pessoas, casas, prédios, e se for na floresta pode encontrar alguns bichos! (...) Eles são... Quer dizer, eu não sei como é que é nenhum deles, mas eu acho que alguns devem ser morenos."
Esse levantamento de seus conhecimentos prévios serviu também para direcionar o nosso trabalho e realizarmos algumas mudanças no meio do caminho, incluindo também o combate a alguns estereótipos. Afinal, de acordo com a autora e filósofa Djamila Ribeiro,
Um ensino que valoriza as várias existências e que referencie positivamente a população negra é benéfico para toda a sociedade, pois conhecer histórias africanas promove outra construção da subjetividade de pessoas negras, além de romper com a visão hierarquizada que pessoas brancas têm da cultura negra, saindo do solipsismo branco, isto é, deixar de apenas ver humanidade entre seus iguais. (Pequeno Manual Antirracista, posição 232-237)
Foram diversas as propostas envolvendo alguns povos e países africanos utilizando recursos variados a fim de valorizar suas histórias e culturas, bem como a resistência e ancestralidade do povo afro-brasileiro: compartilhamos contos e lendas, vivências com artes visuais (confecção de máscaras, abayomis, mandalas com grãos, autorretratos), jogos e brincadeiras (mancala, saltando o feijão, terra e mar), apresentamos personalidades, conceitos e outras reflexões (“cor de pele”, Nelson Mandela, Angélica Dazz, Ubuntu), assim como pesquisas por curiosidades e outras informações (fauna, flora, culinária, etc.). Encerramos esses estudos relembrando a Festa Africana realizada em nossa unidade no ano de 2019 através da série Baú de Memórias.
Embora encerrado o tema Africanidades ao final do mês, é importante lembrar que a nossa preocupação com as questões étnico-raciais não se esgotou aqui: continuamos com nosso olhar atento para a seleção de nossos recursos (vídeos, músicas, fotos, etc.) e oferecimento de novas vivências (incluindo viagens para o Egito Antigo, Moçambique e Nigéria no tema gerador seguinte).
(Por Arline Midori e Daniely Nobre)
De forma coletiva, o grupo docente escolheu trabalhar a partir do mês de Outubro o tema gerador Alguns dias para dar a volta ao mundo, tendo como principais objetivos a aproximação das crianças com informações sobre diversidade cultural, histórica e geográfica de lugares e povos tanto do Brasil como de muitos outros cantos do planeta.
Relembre: Viagem para a Venezuela
No decorrer das reuniões de planejamento, as professoras conversavam sobre qual país, Estado ou cidade gostariam de nos levar pra conhecer. Assim, surgiram ricas trocas de ideias, experiências, informações, sugestões e parcerias de estudos e atividades a serem publicadas no blog Tempos de Ser Criança. Cada professora teve o cuidado em desenvolver diferentes linguagens para retratar o destino escolhido: trabalhamos culinária, danças e trajes típicos; bandeiras, idiomas, localização através de mapas; características de fauna, flora, relevo, entre outros aspectos geográficos; cidadãos nativos, monumentos e acontecimentos famosos; enfim, tudo o que foi considerado pertinente e interessante a ser compartilhado com as crianças e famílias foi apresentado em vídeos, fotos, músicas, textos e sugestões de vivências de culinária, diversas linguagens artísticas, entre outras propostas. Sempre buscando, de forma lúdica, estimular a imaginação, a experimentação, a autoria e o prazer pela busca do conhecimento.
No Brasil, visitamos: Nordeste, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Fernando de Noronha, Amazônia, Minas Gerais, Itú, Paraty, São Paulo, Goiás, Jalapão (Tocantins) e Rio Grande do Sul. E pelo mundo, visitamos: Venezuela, Argentina, México, Austrália, Japão, Moçambique, Rússia, Itália, Portugal, Índia, Finlândia, Holanda, França, Uruguai, Espanha, Nigéria, Inglaterra e China.
Foi uma experiência muito prazerosa e gratificante pois nós mesmas descobrimos muito mais informações incríveis sobre cada lugar, além daquelas que já tínhamos conhecimento. E essa era uma das intenções: proporcionar viagens pelo mundo e pelo conhecimento mesmo sem sair de casa, inseridos nessa realidade tão atípica que estamos vivenciando neste ano. E esperamos que as famílias tenham desenvolvido o gostinho pela busca, cutucado mais ainda o bichinho da curiosidade para continuarem, elas mesmas, escolhendo destinos, viajando, descobrindo, aprendendo, inventando e se divertindo!
O PROCESSO DE ACOMPANHAMENTO E O PODER DA UNIÃO
(Por Sônia Bueno)
Concluindo, escolas e famílias tiveram que se adaptar aos protocolos estabelecidos pela Secretaria Municipal de Saúde e ao ensino remoto proposto pela Secretaria Municipal de Educação. Isso exigiu e continuará exigindo, se necessário, muitos esforços de educadoras e pais/responsáveis para a garantia de acesso às atividades educativas pelas crianças que, por serem pequenas, necessitam de seus familiares e de quem cuida delas para continuar os seus estudos. Mas essas medidas foram necessárias e imprescindíveis para a preservação dos direitos universais à vida e à educação de toda a comunidade escolar.
Relembre: Vamos conversar? sobre rotina
Mudanças de rotina e de hábitos geram preocupação, receio e ansiedade. Somadas ao contexto da pandemia decorrente do coronavírus, por vezes pode parecer um desafio muito difícil de ser superado. Na tentativa de mantemos a comunidade Escolar unida, apesar do distanciamento social, buscamos novas e diversas estratégias de comunicação entre nós, de maneira a atender as especificidades próprias de cada criança e família atendidas, só alcançado por meio de um trabalho integrado entre as equipes de educadores da Unidade Educacional em teletrabalho e em trabalho presencial, afinadas no apoio às crianças em suas aprendizagens e descobertas, e de uma escuta ativa e empática de todos.
O processo de acompanhamento das demandas infantis possibilitou importantes reflexões sobre o ensino e a aprendizagem das crianças, aprimorando os olhares dos educadores e da família sobre a educação infantil no contexto atual. Neste cenário, crianças e adultos aprenderam novas formas de interação com o conhecimento, que não substituem o convívio social e as aulas presenciais, nem tampouco são os mais adequados para a educação infantil, mas possibilitaram o desenvolvimento das crianças, mesmo que de forma digital. O impacto desta pandemia sobre as pessoas foi diverso, variando para cada um e para cada família. Mas, é certo que todas e todos nós sofremos perdas. O compartilhamento dessas experiências entre nós vem possibilitando uma maior compreensão sobre o igualmente importante direito da criança a viver plenamente sua infância. Nós, educadoras, pais e familiares, somos responsáveis pela garantia deste direito. Respeitamos esse período tão marcante da vida, a infância, quando nos fazemos presentes, mesmo distantes, demonstrando todo o nosso cuidado e o nosso afeto para com as crianças.
Entre perdas e ganhos, aprendemos que a família é imprescindível na vida de uma criança e que nossas professoras e nossos professores são insubstituíveis. Por trás da mais moderna ferramenta de aprendizagem, há uma família apoiando seus filhos e filhas e um professor ou professora competente, ensinando a criança a pensar sobre o mundo que a cerca. Hoje, mais preparados e capacitados para os desafios do futuro, reconhecemos o poder da união entre as pessoas, entre os povos e nações.
- Ajudo a manter a casa limpa e organizada;
- Cuido dos meus materiais, brinquedos e mantenho tudo organizado;
- Respeito meus familiares e animais de estimação;
- Resolvo meus problemas conversando;
- Ajudo a minha família nas responsabilidades de casa;
- Presto atenção nas explicações das professoras e família sobre as vivências;
- Faço minhas experiências com atenção e cuidado;
- Experimentei todos os alimentos na hora do almoço, lanche e jantar;
- Cuidei da minha higiene (lavando as mãos, usando máscara, etc.);
- O que preciso melhorar?
- O que gostaria de aprender?
Parabéns pela belíssima postagem, muito completa!!!
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